Oliveira
Eu cresci no interior e vim pra São Paulo fazer faculdade de Propaganda e Marketing. Acabei a faculdade meio perdida, trabalhando na área mas sem grandes emoções. Mudei algumas vezes de empresa, e acabei indo trabalhar numa agência, que foi a gota d’água pra mim. Eu sai de lá e comecei a fazer um monte de cursos aleatórios que me interessassem, até que cai sem querer na cerâmica, me apaixonei e resolvi investir nisso.

Eu trabalho com cerâmica, mais especificamente com torno (sim, aquele do Ghost).
Hoje em dia tudo que está ao meu redor. Uma forma, uma cor, qualquer coisa que vejo por aí pode ser uma inspiração. Como trabalho com utilitários, normalmente parto de peças que gostaria de fazer, e penso em como poderia criar algo diferente do que já tem por aí.

Algumas vezes eu sento e desenho as peças que gostaria de fazer, outras é no torno mesmo quando estou de bobeira que vem a inspiração. As vezes sento ali e faço uma peça, e depois desenho ela, vejo o que poderia mudar e como posso melhorar.


Um dos projetos mais legais que fiz até hoje foi uma coleção que desenvolvi pro projeto Naked Lady, da Oh K. O projeto era sobre feminismo, e como esse é um tema muito presente na minha vida foi legal participar. Eu desenvolvi uma coleção de vasos chamada "A Beleza de Todos os Corpos", pensando na representatividade do corpo feminino.


Acho que a primeira feira que eu fiz foi a mais importante de todas. Eu comecei a fazer cerâmica no começo de 2014, e no fim do ano uma amiga me chamou pra participar da feirinha que ela estava organizando, a Feirinha Pantasma. Eu era muito insegura e ela e outros amigos insistiram e então topei. Cheguei lá super perdida, sem sacola, sem cartão, completamente desorganizada. Ainda assim tive um retorno incrível das pessoas, o apoio de todos foi importantíssimo pra me dar esse empurrão inicial. Se eu não tivesse começado ali não sei quanto tempo teria demorado pra me sentir segura o suficiente pra fazer isso.


Minha maior influência é sem dúvida a ceramista Helen Levi. Eu lembro de vê-la quando comecei a fazer cerâmica e pensar que era possível sim fazer disso uma carreira, diferente do que o pessoal mais velho que fazia aula de cerâmica comigo dizia. Do pessoal daqui tenho as colegas de profissão que eu admiro muito: Noni SP, Rocha do Campo e a Renata Miwa. Das gringas Laurette Broll, Alb Ceramique e a maior e mais maravilhosa de todas Lucie Rie.

Percebo menos o preconceito no trabalho do que na vida pessoal, mas tem o que chamam de “prove de novo”. A mulher tem que fundamentar e provar suas escolhas de uma maneira muito mais profunda e consistente do que os homens, e ainda assim as suas escolhas tendem a ser olhadas com certa condescendência.
Ver minha empresa crescendo, me ver crescendo como criadora e ver todo mundo que está nesse meio desde o começo crescendo juntos. É muito empoderador.


Minha maior dica seria encontrar o equilíbrio entre seguir os seus instintos sem se tornar arrogante. Observar quem está a sua volta e escolher quem você vai ouvir pra cada assunto. É fácil se perder quando se tenta agradar a todos.

O meu projeto mais recente foi a abertura do novo ateliê, que tomou um baita tempo e esforço pra sair do jeito que queríamos (eu divido o ateliê com três marceneiros, duas cozinheiras e uma joalheira), mas finalmente conseguimos abrir a casinha e montar a loja pra tirar esse projeto do papel. Por enquanto ainda estou tentando achar o equilíbrio entre pegar trabalhos que consigam me sustentar e ter tempo livre pra criar novas coleções, então, assim que isso acontecer vem coleção nova por aí.
