Casna
Sou bisneta de uma italiana costureira, neta de uma tricoteira e crocheteira de primeira, sobrinha neta de uma mineira que curandeira é pouco e filha de uma bordadeira guerreira, aprendi muito cedo a trabalhar com as artes manuais; arte que se iniciou com o ponto cruz graças a minha mãe, e foi dando continuidade com as outras mulheres da família. Sei fazer tudo, eu pinto, eu teço, eu crocheto, eu tricoto, eu desenho, eu bordo.
Me formei em moda, e durante anos, trabalhei em algumas marcas que sempre foram ícones para mim, mas foi depois de trabalhar alguns anos com a Paula Raia que retornei o contato com as artes manuais, o processo dela de criação é completamente apaixonante.
O contato com os fios, sempre me recuperou as memórias de infância e o prazer de descobrir pontos e cores. E quando me redescobri no bordado, um novo mundo surgiu, onde cada criação minha está sempre em harmonia e me remete a tempos felizes, tempos de infância.
Sempre aprendi que o trabalho manual nos permite uma lenta imersão em um universo só nosso, é uma atividade introspectiva que nos ajuda a não esquecer de onde vem nossas raízes.

Ultimamente utilizo qualquer tipo de material (rendas, pedras, conchas, materiais comuns de bordado, etc) que eu possa aplicar em cima de uma tela com agulhas e linhas. Gosto sempre de dar um mergulho na criatividade sem gráficos e sem desenhos tradicionais do bordado, aplicando toda a minha presença e criatividade em cada obra que desenvolvo.
Sempre me proponho a uma transformação em cada uma delas, um novo aprendizado, sabe? Mas sempre tendo como objetivo para mim mesma desafiar a sensibilidade e a capacidade de observação e criação.

Tudo, e principalmente a Lua e suas fases (ela é minha maior aliada, em cada fase dela eu sinto inspirações diferentes) mas, eu tenho mil inspirações como os brotinhos que dão nas plantas aqui de casa, a natureza e suas texturas, seus sons, seus movimentos, meu marido, e claro desde que estou grávida (24 semanas e contando, hahaha) tem sido um processo de me reinventar a cada dia que passa, carregando esse serzinho dentro de mim.


Na maioria dos meus processos eu apenas sigo meus instintos e anotações passadas.
Acredito que arte é transformação, então sempre me conecto com tudo que está ao meu redor, com sonhos que tive, conversas, encontros e com texturas e sensações que senti, e vou anotando em meu sketchbook.

Poxa vida, essa pergunta me pega… Todos são meus trabalhos preferidos, mas vou citar alguns aqui e tentar decidir qual deles amo mais. Em 2016 eu bordei um projeto de moda incrível que se chamava o Céu Bordado, onde tudo era em tons pasteis e com texturas lindas; esse ano desenvolvi vários projetos que me deixaram totalmente orgulhosa de mim mesma hahaha, como as jaquetas que bordei para a marca Resgate Fashion e alguns projetos pessoais como as aquarelas em algodão orgânico com bordados a mão para o quarto do meu filho; e por último e o meu preferido uma tela em lona de caminhoneiro explorando todos os tipos de materiais possíveis e encontrados por aí.


Eu trabalhava CLT em uma marca de moda atemporal, trabalhei lá por quase 3 anos e já estava bem sobrecarregada de tudo e querendo fazer as coisas que eu gostava e focar mais em mim. E então tomei coragem de sair de lá, e tirei uns meses sabáticos para pôr a cabeça no lugar. Viajei para algumas cidades aqui do interior de São Paulo, e depois para o Chile. E em um belo dia deitada na rede com uma vista linda para a ponta de uma das montanhas da cordilheira, me deparei pensando em mil projetos que tinha na cabeça e não colocava em prática. E aí corri, peguei um caderno de desenho e comecei a esboçar tudo detalhadamente. Quando voltamos, tirei tudo do papel e voilà estamos aí.

Meus artistas preferidos são Tarsila do Amaral, Hundertwasser e Pablo Picasso (esses 3 pra mim serão sempre minhas influências em qualquer trabalho) mas também tenho alguns artistas atuais que eu tenho acompanhado há alguns anos que me fascinam. A artista têxtil Mariko Kusumoto que explora todos os tipos de fibras possíveis que se existem e faz um trabalho sensacional; também enlouqueço com as ilustrações do indiano Svabhu Kohli, me sinto dentro do desenho, dentro da tela, me sinto vivendo aquilo também e por último a artista Arimoto Yumiko que é uma asiática que me faz perder o chão de tantos bordados inspiradores e lindos.


Infelizmente existe, mas os meus trabalhos não são em forma de protesto, mas admiro muito todas as mulheres que fazem e espero chegar lá um dia. Não sinto esse preconceito refletido em mim, mas sinto muita falta de valorização para com o mesmo, né? Muita gente reclama dos preços, do tempo, do material, de tudo e acaba não enxergando todo o processo de desenvolvimento e criação que tem por trás de cada obra.

Vivo cada dia que passa com muita intensidade e me dedico à ele, e isso me parece ser o suficiente.
Viver me faz muito feliz, isso basta, né?


Acho que não existe um limite de criação, qualquer uma pode ser artista, qualquer uma pode criar se conseguir colocar tudo que sente naquilo que está trabalhando.
Então meu conselho nada mais é do que acreditar em você mesma e não se limitar.

Sim, tenho muitos, mas com a gravidez tive que diminuir o ritmo dos projetos pois o corpo não é mais o mesmo, né?
Meus projetos são sempre bem intensos e demorados, mas agora estou tingindo meus próprios materiais com matéria prima orgânica e natural, e estou com uma parceria linda com a marca Neriage, e muitas outras coisinhas que não posso contar (essas são surpresas).
