Mercier
Nasci na cidade de Três Corações Minas Gerais e ainda criança, tive contato com o desenho. Era uma expressão natural para mim e, ainda hoje, continua sendo a melhor maneira de catarse para extrapolar meus sentimentos e ideias inconscientes.
Formada em Artes em Indumentária, trabalhei por algum tempo como assistente na criação de figurinos e como pesquisadora de tendência na indústria calçadista. No ano de 2013, me voltei para mim mesma iniciando ilustrações femininas em aquarela e à lápis. Em 2017, por questões pessoais de materialização de desejos profundamente criativos, voltei a pintar telas de forma autoral em técnicas abstratas e figurativas.
Por meio da técnica abstrata, mergulho nos meus sentimentos mais instintivos e animais, me deixando levar pelos estados emocionais que me encontro enquanto pinto, pela música e pelas individualidades enquanto ser humano inserido em uma modernidade indefinida e líquida.
Na técnica de pintura à óleo de retratos femininos, promovo a investigação reflexiva das riquíssimas identidades da mulher brasileira afrodescendente enquanto ruptura com estereótipos consagrados na pintura tradicional. O objetivo é libertar a mulher de papéis engessados por meio de pinturas que começam na técnica realista e evoluem para a abstração insólita.
Em 2018, resolvi alçar novos vôos levando meus trabalhos para galerias de Niterói, Rio de Janeiro e São Paulo.

A pintura abstrata, a semi realista figurativa e a escrita.
Minha maior motivação para criar são sentimentos mais profundos e conflitantes enquanto indivíduo imerso em uma modernidade caótica e sufocante. E também os meus questionamentos enquanto mulher e artista, tendo em vista o meu papel social responsável.
Nas pinturas abstratas, sou guiada pela música e pelos meus ciclos hormonais femininos. São momentos em que preciso me encontrar completamente sozinha e conectada comigo mesma sem interrupções externas.
Nos retratos baseados em sets fotográficos dirigidos por mim, procuro refletir uma série de pesquisas sobre o universo feminino da mulher brasileira, com base na quebra de estereótipos e da valorização da mulher contemporânea como um ser multifacetado e de múltiplas camadas. É um processo de muita pesquisa, lento e demorado que exige integração contínua com os objetivos visuais mais expressivos para cada composição.


Faço Yoga para manter o equilíbrio, procuro ler muitos livros sobre assuntos pertinentes e ouço música o dia inteiro, me mantendo distante de ambientes turbulentos e pessoas negativas.
O segundo retrato, ainda sem título, em que exploro os múltiplos olhos, bocas e narizes da personagem central das minhas pinturas. Por meio dessa técnica expresso as múltiplas possibilidades do ser humano livre enquanto indivíduo.
A tela abstrata “Afrodite” refletiu um momento de cunho muito sexual e vivo, no qual fui guiada por uma trilha sonora composta de cds da banda americana Yeah Yeah Yeahs. Expressou fielmente meus sentimentos nos dias de trabalho nessa tela.


Desistir de trabalhar na indústria de vestuário me libertou para novas escolhas totalmente novas e mais sintonizadas com o meu ser.
Minhas influências são os livros do Zygmunt Bauman, como “Modernidade Líquida” e “Amores Líquidos”, as escritoras Clarice Lispector, Chimamanda Ngozi Adichie, os artistas plásticos como Charmaine Olivia, Christian Hook e Ivana Besevic.
Percebo frequentemente, a repreensão nos círculos de convivência quando uma mulher se coloca a debater um problema ou expõe abertamente suas ideias sobre determinado assunto.
Muitas pessoas ainda reproduzem a discriminação em gestos de desrespeito pela falante mulher, tentando silenciar sua expressão ou mesmo diminuir a sua importância.
Por sentir isso no cotidiano, levo para o meu trabalho a expressão total dos meus sentimentos e procuro ser transparente em relação a importância de assumir isso.


Yoga, praia, sol, mar e amor com e pelas pessoas que me rodeiam.
A primeira dica é a sororidade. Mantenham-se unidas às outras artistas, de modo a formar uma corrente que levante as outras, sem estimular a competição. Entenda que muito depende de você saber quais são suas intenções.
Meu novo projeto em andamento consiste na pintura de uma cellista internacional niteroiense que, recentemente, ganhou uma bolsa de estudos integral em uma das mais importantes escolas de música do mundo, a Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos.
Ao convidá-la, tive o imenso prazer de conhecer uma jovem forte, determinada e de postura confiante sobre si mesma. Minha intenção é retratar como uma pessoa real e de forte expressão musical, valoriza e potencializa os novos papéis da mulher afrobrasileira, que rompe padrões de uma sociedade controversa a qual precisa evoluir muito em diversos setores humanos.
