Freitas
Eu trabalho com design e ilustração. Estudei na Universidade Federal de Pernambuco, onde me especializei como designer gráfica. Ao me formar, em 2009, comecei a trabalhar diagramando revistas, um jornal literário e projetando livros. Na mesma época comecei a ilustrar textos e descobri a colagem como uma linguagem que me permitia comunicar visualmente de uma forma instintiva, foi daí que nasceram os "delírios gráficos".
"Delírios gráficos" é como tenho chamado parte de meu trabalho em que me expresso através de colagens. É um misto de brincadeira e experimentação. As imagens são criadas a partir de um processo muito intuitivo, tratam da necessidade de se sentir livre, de se lançar e desfazer certezas, procurar caminhos desconhecidos. Qualquer caminho que tenha coração.

Varia muito, uso como suporte tanto o manual quanto o digital. Gosto de misturar.
Faço muito uso de fotografias antigas, texturas, recortes que guardo e transformo em outra coisa quando finalizo as colagens.


De certa forma, a colagem é uma maneira de fazer ficção ou poesia.
E dá muita liberdade porque não tem compromissos, não tem amarras digamos assim. Não tem uma forma certa ou errada de fazer, é um linguagem muito acessível, qualquer um pode experimentar. Isso é muito legal. Sinto que a principal motivação no meu trabalho é que ele me humaniza. É um exercício contínuo de resistência na medida em me permito estar presente e sensível em um mundo que apela para distração e o distanciamento de si mesmo.


Me permito incorporar erros de percurso, brincar com perspectivas, incitar um mergulho, provocar estranhamento. No início do processo me deixo divagar, experimentar com as imagens, cores, texturas... até que entro num fluxo criativo e vou descobrindo que tipo de voz e emoções estou querendo imprimir no trabalho e assim vou concentrando as ideias e o trabalho ganha força na medida que vou depurando e descobrindo essa voz interna.
Bom, como designer tenho sempre o hábito de buscar referências tanto de outros designers como das artes visuais também. A música e a literatura são grandes aliadas para manter um ritmo criativo, me despertam muitos insights.
Os projetos preferidos são sempre os que me deixam com total liberdade criativa.


Trabalhei durante seis anos na equipe de arte do Suplemento Pernambuco e na revista Continente, em ambas publicações havia muita demanda por ilustração, o que me fez tentar achar uma voz criativa de certa forma mais autoral. Isso me fez descobrir o gosto por trabalhos mais experimentais, acredito que isso influencia muito o meu trabalho até agora.
É difícil apontar um artista preferido, mas com certeza as experimentações com colagem e fotomontagem dos dadaístas são grande referência. Como disse anteriormente, a música e a literatura também me ajudam muito a criar. Fora isso gosto de fazer oficinas e cursos que me apresentem novos suportes, formas diferentes de experimentação.


Bem, nós somos mulheres, inevitavelmente vivemos todos os dias situações que nos colocam o porque do feminismo ser importante. O modelo do patriarcado oprime, gera desequilíbrios e muitos problemas. Em qualquer meio você vai achar situações de misoginia, no setor criativo não acho que seja diferente. Acredito que afirmar nossa voz criativa é uma forma de resistir nesse modelo de sociedade que se construiu na base do silenciamento do feminino.


Tempo livre, natureza e silêncio.
Não sei se é uma dica, mas acho que não desistir e se permitir ter tempo e lugar para criar é muito importante. Pode parecer o óbvio, mas no nosso cotidiano cheio de cargas e atribuições, se dar tempo para escutar sua própria voz, o que te interessa de verdade, dar vazão ao seu mundo subjetivo, acredito que seja uma grande revolução.


Ando interessada na construção manual de livros, livros de artista e skecthbooks. Pretendo começar a construir um livro imagem com os "delírios".