Bragança
O meu nome é Joana Rosa Bragança, mas gosto de ser chamada de Rosa, apenas. Vivo em Olhão, no sul de Portugal, onde desenvolvo o meu trabalho de pintura e desenho e me aventuro como ilustradora freelancer. Tenho exposto colectiva e individualmente dentro e fora do país, e publicado as minhas ilustrações em livros, fanzines, calendários, jornais, e noutros suportes interessantes.

Os materiais que mais utilizo são aguarelas, tinta-da-china, grafite, lápis de cor e papel, mas, por vezes, também gosto de utilizar lâminas de corte e material de gravura. Os tecidos e linhas também fazem parte do meu rol, mas menos frequentemente.

Senti desde sempre uma inclinação para desenhar, pintar e criar coisas novas com as mãos, sendo gostar do que faço a minha maior motivação.
Pintar é uma maneira de ver e entender o que me rodeia e também de criar universos paralelos onde gosto de me perder. Prefiro comunicar desenhando porque me atrapalho muitas vezes com as palavras.
Motiva-me aprender técnicas novas e saber que haverá sempre coisas diferentes para experimentar. Inspiram-me as situações do quotidiano, os sonhos, as pessoas que vejo e ouço na rua, o mar, os animais, a natureza, os livros e a música.


O meu processo criativo varia bastante, posso esboçar uma ideia com palavras ou com desenhos rápidos a lápis num caderno ou em papeis soltos, depois escolho os materiais, faço estudos de cor e avanço para a arte final.
Depende também do material que estou a usar. Às vezes, trabalhando com tinta-da-china e pincéis, faço os desenhos à primeira, sem qualquer esboço. Já em aguarela, por exemplo, se tiver de fazer algo com um tema, costumo fazer vários esboços a lápis para tentar chegar a um caminho que me agrade e que vá dar à arte final.
Para que a criatividade possa ter lugar e fluir de forma natural, tenho de fazer outras coisas de que goste, sem qualquer ligação formal a “trabalho”, só por apetecer, como passear e ler, correr e andar de bicicleta, observar a natureza, ouvir música, fotografar e conversar. Muitas vezes a criatividade alimenta-se destas coisas, e é daí que surgem ideias para novas criações e projectos, que se ganha fôlego para continuar a trabalhar.
A meu ver, a criatividade não passa apenas por estar fechada no atelier fazendo coisas, horas e horas a fio, é muito mais do que isso e anda à solta por onde menos se espera.


Sinto-me ligada a quase tudo que faço, mas há trabalhos que gostei especialmente de fazer. Em 2011, por exemplo, fiz um trabalho para o Museu da Marioneta de Lisboa inspirado nos Bonecos de Santo Aleixo, que são títeres tradicionais do Alentejo, e que me fascinam profundamente.
Tudo neles me inspira: as roupas, as caras, os movimentos e o sentido de humor sempre presente nas suas peças. Tive a oportunidade de os ver mais de perto, estudá-los e depois tive o prazer de os desenhar e interpretar à minha maneira.
Outro projecto, desta vez pessoal, que também foi especial para mim, foi criar algumas ilustrações contra a exploração do petróleo na minha região. Este projecto surgiu espontaneamente como forma de manifestar a minha indignação com o assunto e de contribuir para a divulgação do problema e ajudar nessa luta.

Penso que a minha carreira tem sido feita de pequenos momentos, talvez não assim tão decisivos quanto isso, mas mesmo assim importantes. Aliás, creio que até as pequenas coisas podem ser decisivas, mesmo que à primeira vista não pareçam. Não sei se algo verdadeiramente decisivo está para acontecer, mas, quer aconteça quer não, vou seguindo o meu caminho, devagarinho e sempre, como sempre fiz.


Da música à literatura, do cinema às artes visuais, há muitos artistas que me marcam, inspiram, fazem pensar e me abrem horizontes com as suas criações. Prefiro não mencionar ninguém em particular pois são bastantes e alguns ficariam de fora, para além de que descubro pessoas novas ou antigas que não conhecia com bastante frequência, e a lista está sempre em crescimento.
Penso que sim, embora, em relação ao meu trabalho, nunca o tenha percebido.
É difícil dizer sem parecer um lugar comum... amar e ser amada, os amigos e a família, as coisas simples, a natureza, o mar, ter a oportunidade de fazer o que gosto, passear para longe ou para perto de quando em vez, comer coisas boas, aprender coisas novas. Posso fazer um desenho?


Independentemente do gênero, penso que, sempre que se pode, se deve fazer aquilo que nos dá na telha, sem uma preocupação com o que está na moda e seguindo os próprios instintos, gostos tendências pessoais, pois isso vai fazer com que se encontre o próprio caminho e com que o trabalho de cada um seja realmente genuíno. Isto é o básico, o resto ainda estou descobrindo!
Neste momento, estou a trabalhar numa curta-metragem de animação com a Animanostra, a minha primeira experiência na área. O nível de envolvimento e compromisso é enorme, bem como o desgaste inerente. Está sendo uma grande aprendizagem e espero poder, daqui por pouco mais de um ano, contemplar o resultado final e dizer que valeu bem a pena!
