Bourscheidt
Minha formação acadêmica é em Design Gráfico, uma área que exige muito repertório e interesse pelo que inspira, como ilustração, música, fotografia e outras manifestações.
Desenhar era um hobby durante boa parte da minha vida, mas foi por causa do design, e por transitar nesses meios relacionados à criatividade, que passei a me informar e entender a ilustração como trabalho.
Foi assim que aos poucos descobri maneiras de inserir meus traços como diferencial nos projetos gráficos até enfim conseguir estabelecer um estilo e trabalhar também em projetos exclusivamente de ilustração.
Trabalho como autônoma há cinco anos, e há dois criei a marca Estúdio Candy para assinar meus projetos de design e ilustração.

A ilustração digital é minha principal forma de expressão, mas tudo nasce no sketchbook, a partir dos desenhos a mão. Nunca começo uma ilustra diretamente no computador, pois é nos traços manuais que encontro características mais genuínas, que procuro manter mesmo depois da finalização digital.
Acredito que é isso que dá “minha cara” para os trabalhos e mantém minha essência. Também faço desenhos em paredes, vitrines e outras superfícies diversas, que é onde consigo manter meu contato e paixão pelas técnicas e materiais analógicos.


Tive uma vida muito peculiar, desde a infância vivendo numa casa no alto de uma montanha, em contato com as coisas mais simples, desenhando todos os dias, sem muitas tecnologias, sem horários rígidos e com bastante liberdade pra ser criança.
Essa nostalgia é um traço bem forte de tudo o que faço, com cores muito vibrantes e temáticas relacionadas aos jogos, filmes, desenhos, moda e brinquedos dos anos 90. Também é esse sentimento nostálgico que me inspira a fazer o que faço, gosto de pensar que “meu eu de 10 anos” ia curtir muito saber que seria ilustradora no futuro.
Todo meu processo é pautado por metodologia. Subdividir uma tarefa em tarefas menores me ajuda a saber quando é hora de planejar, quando sou livre pra “viajar na maionese” e quando devo respeitar o momento de seguir em frente. Isso impede que etapas burocráticas, prazos, preocupações e outros dilemas acabem minando a criatividade. Me manter tranquila e organizada faz as ideias transitarem livremente.


Como toda minha inspiração vem da minha própria vivência, procuro me cercar das coisas que amo: referências, músicas, lugares, livros e pessoas. Gosto muito de aproveitar o dia, sair de casa e perceber o mundo, procurar detalhes visuais atraentes e observar muito. Enfim, procuro fazer mais as coisas que gosto quando não estou trabalhando, viver bem os momentos, e isso é o que acaba interferindo positivamente em minha rotina criativa.




Eu amei a primeira parede que ilustrei, porque ela era enorme e levou dias para ser finalizada, com uma quantidade grande de detalhes. Era a primeira loja infantil da minha cunhada e do meu irmão, e eles me deram total liberdade pra desenhar o que eu quisesse.
É a melhor sensação do mundo criar para alguém que quer seu trabalho pelo que ele é, com total confiança e real admiração. Depois disso surgiram outros projetos de paredes e vitrines, e todos foram muito inesquecíveis, por isso tenho um carinho especial por esse momento.


Ainda é muito recente minha história como profissional, por isso acho que não tenho ainda uma perspectiva de “trajetória”. Tenho uma coleção de momentos únicos e aprendizados, mas ainda considero cedo pra eleger algum como decisivo.
Sou muito fã do cineasta Wes Anderson. Depois de assistir aos filmes dele, minha visão mudou completamente, fiquei muito impressionada com a estética, as composições, os cenários e principalmente as cores que ele utiliza. Conhecer o trabalho dele me levou a ter mais confiança nas minhas ilustrações, pois durante muito tempo tive dificuldades pra aceitar algumas características que sempre eram apontadas, como a “fofura” por exemplo. Percebi que coisas fofas não são sinônimo de imaturidade e deixei de “reprimir” as cores, algo que fazia com frequência. Hoje me sinto realizada por conseguir expressar as ideias exatamente como elas estão na minha cabeça, e isso se tornou fundamental na minha linha de criação.
Existe sim, todo tipo de preconceito. Nós mulheres precisamos constantemente fornecer provas de capacidade, nossa palavra muitas vezes não é suficiente e nossa voz inúmeras vezes é silenciada. Já vivenciei e vivencio diversas situações assim, que acabam por dificultar a vida de forma geral, e também a busca pelo respeito e reconhecimento.


"É a melhor sensação do mundo criar para alguém que quer seu trabalho pelo que ele é!"



Desenhar e viver uma vida simples.
Acredito que o mais importante é seguir em busca de novas perspectivas, nunca parar de experimentar as possibilidades do que se faz e nunca acreditar que se chegou ao limite. Sejam ousadas e corajosas!
