Gushiken
Sou artista mestiça, inspirada por memórias que migram por peles, lugares, retratos, e pela natureza que desabrocha através destas lembranças. Tenho forte conexão com a cor dourada, as aguadas de nanquim, aquarelas e os papéis de grande absorção. Gosto dos papéis japoneses e chineses, mas também dos mais simples como os de filtro e embrulho. Costumo mesclá-los com diversas tintas, instrumentos e suportes como madeiras, paredes e tecidos.
Sendo neta de japoneses, construí um Japão mítico a partir do que observava no convívio com meus avós, mexendo em suas fotografias, cartas, postais, documentos, e vestindo as roupas de minha avó enquanto ela se arrumava para suas apresentações de dança. Assim, criei uma mitologia pessoal, e meus próprios rituais para me conectar com a ancestralidade.
Gosto de mergulhar em minhas memórias ancestrais, e também passear pelas memórias de lindas pessoas que cruzam o meu caminho. Deixo que meu trabalho se manifeste a partir destas experiências de vida.

Meu suporte preferido é o papel. Amo papéis com grande absorção! Então os papéis japoneses e chineses são meus preferidos. Gosto de usar pincel, canetas e pastel oleoso sobre estes papéis. Mesmo os últimos murais que fiz, foram uma mistura de colagem em papel sobre o muro, com intervenção de pintura de bastão oleoso, acrílica e nanquim sobre a colagem. Gosto de misturar técnicas, mas com certeza, o papel é o suporte que mais me encanta.
Agora com a pintura em pele e tatuagens, estou bem curiosa com os resultados da tinta sobre e sob a pele.


A maior motivação para criar são minhas memórias. Memórias de minha infância, e memórias que ganho em meu caminho pela vida, conhecendo pessoas e lugares incríveis.


Meu processo criativo é mutável pois sou muito intuitiva. Mas existem duas coisas que não abro mão, não importa onde eu esteja, que é música e cheiros que sempre carrego comigo. Tenho meu atelier, mas gosto de pintar em lugares diferentes. Me sinto muito inspirada em sair do meu ambiente e das minhas referências pessoais para criar. Por isso, mesmo quando não estou em viagem, vou visitar e compartilhar dos espaços criativos de outros amigos artistas. Acho que a troca com outras pessoas é o que mais alimenta meu processo criativo.

Ouço pessoas. Gosto de ouvir histórias, receber memórias e experiências de outras pessoas. Sentir e servir o outro me mantém criativa.


Difícil dizer... sempre são os do agora... Neste momento pintar sobre e sob a pele, e fazer os murais com rostos de pessoas mestiças, deslocadas de seus espaços de origem, tem mantido meu olhar e coração radiantes.
Estou respondendo este questionário depois de demorar meses ... porque me sentia deslocada de mim mesma para fazer isso. Neste momento, estou em Frankfurt esperando conexão para Índia. Então sinto que o grande marco da minha vida ainda vai acontecer...
Meus avós que eram japoneses, e minhas memórias de infância, deste Japão mítico e mestiço que criei, são minha eterna fonte de inspiração. Me inspiro por muitos artistas, sempre tem um novo artista cruzando meu caminho, tanto do passado, quanto do presente. Difícil eleger os principais agora ...


Sinto e sei que existem muitos preconceitos com relação a mulher se expressar livremente; mas do fundo do coração, me expresso livremente sem me preocupar com o que dirão, pois respeito minha intuição e meu desabrochar como mulher em primeiro lugar, e procuro viver como esta frase de Kazuo Ohno, que é uma das tantas que inspiram os meus dias. “Dance como uma flor que não pede licença para nascer.”


Momentos simples onde sinto a sensação de contentamento, quando estou só, ou ao lado de pessoas que me fazem bem.
Sigam sua intuição, sejam autênticas e busquem florescer através das experiências, sejam elas leves e alegres ou duras e difíceis. Nascer, morrer e nascer, nos faz potenciar nossos atos criativos.


Farei um percurso de três meses pela Ásia e Europa, onde buscarei pessoas na Índia, Bali, Barcelona e Paris, para realizar este ritual de pintura de pele e tatuagem. Nas tatuagens, criarei uma pintura sumiê baseada em um sentimento simbólico e especial para a pessoa, e nas pinturas de pele farei o convite para pintar aqueles que me chamarem atenção por seus olhares, gestos, ou por estarem vivendo uma experiência de vida onde eu possa me enriquecer. Após serem pintadas, estas pessoas serão fotografadas, e depois, através da técnica de colagem de papel sobre parede (lambe-lambe), criarei murais para levá-las comigo para outras partes do mundo. Através das fotografias e tatuagens brincamos de eternizar, e com as pinturas de nanquim sobre pele e as colagens nos murais, nos lembramos que as coisas se transformam, e se diluem com o tempo...